Escrito por: Anieli Cristina da Silva Guimaraes, Jardeane Reis de Araújo e Paula Ramos Ghiraldelli
A BNCC E O CAMPO JORNALÍSTICO MIDIÁTICO
O presente trabalho tem como objetivo desenvolver a respeito do gênero textual reportagem, dentro de seu campo de conhecimento “jornalismo midiático”, e como podemos explorá-lo com alunos da 6a série do Ensino Fundamental, conforme exposto pela BASE COMUM CURRICULAR - documento vinculado ao Ministério da Educação que contém as diretrizes gerais para o ensino no Brasil.
Ao tratar sobre a linguagem, a BNCC considera as perspectivas contidas em outros documentos curriculares, como a teoria de linguagem como elemento social fruto da interação, de Vygotsky, e a teoria sobre gêneros textuais, de Bakhtin. Nesse sentido, a linguagem é dada através da interação social sob a forma de gêneros textuais, ou seja, as formas de interação que se utilizam da linguagem ocorrem de acordo com características comuns que os enunciados produzidos apresentam em relação à sua linguagem e conteúdo.
Assim, a BNCC no que diz respeito ao ensino de linguagem tem como foco central o texto, seja ele oral ou escrito, encaixando-os em gêneros textuais de língua portuguesa. Os diversos gêneros textuais da língua portuguesa são agrupados e classificados em diversos campos do conhecimento, sendo estes: o campo da vida cotidiana, o campo artístico literário, o campo das práticas de estudo e pesquisa, o campo da vida pública, campo jornalístico midiático e o campo de atuação na vida pública.
O estudo dos gêneros, de acordo com a BNCC, é dado a partir de habilidades que se relacionam à esses campos e que proporcionam ao aluno o desenvolvimento de suas capacidades linguísticas, distribuídas em eixos de integração e que através dos quais a prática de linguagem se efetiva: a oralidade, a leitura, a produção e a compreensão de texto, e a análise linguística/semiótica.
Como dissemos, o gênero que nos interessa aqui, é o gênero reportagem, que está inserido dentro do campo jornalístico midiático. O campo jornalístico midiático está inserido dentro do estudo de língua portuguesa voltado para os anos finais do Ensino Fundamental e para os três anos do Ensino Médio, mas alguns de seus gêneros são apresentados já nos anos iniciais, e ele se relaciona ao tratamento dos gêneros jornalísticos (informativos e opinativos), bem como dos gêneros publicitários (BNCC, 2019).
Esse campo privilegia o foco em estratégias linguístico-discursivas e semióticas voltadas para a argumentação e persuasão, a questão da confiabilidade e manipulação da informação, a propagação de discurso de ódio, além de práticas contemporâneas relacionadas aos gêneros atuais de mídia, relacionando habilidades voltadas para gêneros mais consagrados, como os impressos, e gêneros mais atuais (BNCC, 2019).
Os gêneros publicitários, como dissemos, também são abarcados por esse campo, e nesse aspecto, a BNCC prevê o tratamento de diferentes peças publicitárias, impressos ou não, supondo a habilidade de lidar com multisemioses dos textos e com as diversas mídias de veiculação, e de analisar os mecanismos de persuasão que envolvem esses gêneros, visando promover o consumo consciente.
No mais, os gêneros que estão inclusos nesse campo, dentre os tipos evidenciados, são: reportagem, reportagem multimidiática, fotorreportagem, foto-denúncia, artigo de opinião, editorial, resenha crítica, crônica, comentário, debate, vlog noticioso, vlog cultural, meme, charge, charge digital, political remix, anúncio publicitário, propaganda, jingle, spot, dentre outros (BNCC, 2019). A cada ano esses gêneros devem ser contemplados visando o estágio de letramento em que o estudante se encontre.
GÊNERO REPORTAGEM
A reportagem jornalística é um gênero jornalístico-midiático. Os gêneros midiáticos são aqueles que se utilizam da mídia para a veiculação. Assim, a reportagem se utiliza de jornais, revistas, websites, rádios, e afins, podendo ocorrer em sua forma oral (como quando apresentada nos noticiários de televisão, por exemplo) ou escrita, como nos jornais ou revistas, podendo ser virtuais ou não.
De acordo com Patrick Charaudeau (2009), a reportagem “trata de um fenômeno social ou político, tentando explicá-lo” (CHARAUDEAU, 2009, p. 221), sendo fenômeno social, considerado pelo autor, uma série de acontecimentos produzidos no espaço público, gerando interesse geral. Assim, é um gênero cujo propósito comunicativo é o de informar, e para tal conta com levantamentos de dados, entrevistas, testemunhas, especialistas e etc.
Apesar disso, a reportagem não possui uma definição clara dentro do campo jornalístico. Os gêneros do jornalismo são divididos entre informativo – aqueles que narram fatos noticiosos – e o opinativo – aqueles que expõem a opinião de um autor acerca de algum assunto. A reportagem se situa entre essas duas classificações, à medida que ela cuida do levantamento de um fato, ou de um assunto, a partir de um ângulo preestabelecido.
Por envolver o uso da língua e uma assinatura (a do jornalista envolvido) o gênero reportagem não pode ser considerado simplesmente informativo. Segundo a perspectiva bakhtiniana de linguagem, ela nunca pode ser completamente imparcial, devido ao fato que ela é afetada pelo sujeito que a produz e pelas relações dialógicas com outros sujeitos, sendo influenciada pelo contexto social, da ideologia dominante e da luta de classes que se estabelecem numa determinada época.
Assim, a reportagem é realizada sempre sobre a perspectiva do jornalista, podendo transparecer, em maior ou menor grau de clareza, a opinião do mesmo. Entretanto, na apresentação de seu produto, o autor de uma reportagem, se utiliza de um aspecto objetivo, como a utilização de certos tempos verbais e construções de discurso indireto, na tentativa de demonstrar subjetividade e verdade ao leitor.
Um outro recurso utilizado pelo jornalista, nesse mesmo sentido, é a inclusão de vozes no texto – como entrevistas, testemunhas e etc - que permite que o texto seja visto como abordando o tema de uma forma global e que o jornalista se isenta da apresentação dos fatos. Para tal, é comum a utilização do discurso direto e indireto na alternância entre a voz que constrói o texto e essas testemunhas. Esse distanciamento entre essas vozes são marcas linguísticas que conferem verdade ao texto.
Além disso, a reportagem jornalística é um gênero que, apesar de formal, apresenta certa intermidialidade entre o extremo formal e o informal, na medida que sua função é transmitir uma informação (e, inerentemente a essa função, acaba por transmitir uma opinião) a um grande público alvo, objetivando, assim atingir várias classes sociais.
Para Ferrari e Sodré (1986, p. 15) a reportagem se distingue dos outros gêneros jornalísticos por apresentar: "predominância da forma narrativa, humanização do relato, texto de natureza impressionista e objetividade dos fatos narrados”. Portanto, a reportagem tem por essência produzir um texto mais próximo e humano, procurando responder às seguintes perguntas: quem? e o quê?.
Destacamos ainda que, a reportagem dialoga com outros campos do conhecimento, a exemplo, das reportagens científicas que transitam “tanto pelo campo jornalístico/midiático quanto pelo campo de divulgação científica” (BNCC, 2019, p. 83), Isto ocorre porque ambos os campos têm por objetivo refletir e discutir temáticas que envolvem interesses da vida cotidiana em sociedade.
A escolha do gênero reportagem
Como dissemos, o gênero reportagem foi selecionado a partir do campo de conhecimento jornalístico-midiático, conforme consta no documento intitulado Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que rege o ensino básico brasileiro. Desse modo, a escolha se baseou no sentido de que por ser um gênero de grande ampliação, isto é, todo aluno em algum momento tem contato com a reportagem em seu dia a dia, ou seja, encontra-se presente na vida de grande parcela da população, assim pode proporcionar aos estudantes a ampliação das capacidades linguísticas, a partir de algo que lhes é familiar.
Como a BNCC trabalha a reportagem
Pela BNCC, ao trabalharmos a reportagem, temos por um de seus objetivos, abordar o planejamento e a produção de textos jornalísticos orais.
Portanto, trabalhar este gênero está ligado a competências específicas nº 6 que trata sobre a linguagem para o ensino fundamental e a competência geral da educação básica nº 5, pois ambos referem-se a uso das tecnologias digitais no ensino e como se apropriar dessas ferramentas de modo reflexivo e crítico:
6. Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos. (BNCC, 2019, p. 85)
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. (BNCC, 2019, p. 9)
Prática de Linguagem: eixo oral
Escolhemos trabalhar com a reportagem em sua modalidade oral de maneira a trazer um diferencial aos alunos, à medida que observa-se que oralidade é trabalhada nas escolas, na maioria das vezes, atrelada à informalidade. A maioria das escolas se atém aos gêneros escritos e quando se preocupam com a oralidade, o fazem apenas no aspecto informal. A reportagem, por apresentar certo grau de formalidade, pode proporcionar aos alunos uma nova visão dos gêneros orais, e não limitá-los apenas à conversas e diálogos, mas perceberem que a oralidade também apresenta suas regras e definições.
Série
A série escolhida para trabalhar com o gênero reportagem foi selecionada de acordo com o Documento Curricular do Tocantins, que indica que esse gênero pode ser trabalhado com alunos do 6º ano. Além disso, acreditamos que nessa faixa etária seja crucial o desenvolvimento de atividades que contenham novidades, como forma de estimular os alunos.
Habilidade
A habilidade escolhida dentro do eixo da oralidade para desenvolvermos o gênero reportagem, trata-se da:
(EF69LP12) Desenvolver estratégias de planejamento, elaboração, revisão, edição, reescrita/ redesign (esses três últimos quando não for situação ao vivo) e avaliação de textos orais, áudio e/ou vídeo, considerando sua adequação aos contextos em que foram produzidos, à forma composicional e estilo de gêneros, a clareza, progressão temática e variedade linguística empregada, os elementos relacionados à fala, tais como modulação de voz, entonação, ritmo, altura e intensidade, respiração etc., os elementos cinésicos, tais como postura corporal, movimentos e gestualidade significativa, expressão facial, contato de olho com plateia etc. (BNCC, 2019, p. 143)
Destacarmos a importância de trabalhar esta habilidade por dialogar com os eixos leituras e produção textual relacionados tanto aos textos escritos quanto produções orais. Desse modo, objetiva-se o uso das plataformas digitais para as leituras multimodais.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2019. Disponível em < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#fundamental/lingua-portuguesa-no-ensino-fundamental-anos-finais-praticas-de-linguagem-objetos-de-conhecimento-e-habilidades >. Acesso em 17 de fevereiro de 2021
CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2009.
SILVA, T.S. O gênero discursivo reportagem de revista: um estudo de suas características e análise de exemplares da revista Istoé. Disposto em < https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/viewFile/3845/2711 >. Acesso em 17 de fevereiro de 2021.
SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de Reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. 6. ed. São Paulo: Summus Editorial, 1986.
VOLOCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem. 2ª edição. São Paulo: Editora 34, 2018.