quinta-feira, 4 de março de 2021

BNCC e PCNs: como nós, pibidianos, trabalharemos o ensino de língua portuguesa nas escolas

 No Brasil, atualmente, o documento governamental que serve como guia do ensino é o chamado de Base Nacional Comum Curricular, a BNCC. A Base foi elaborada de modo elaborar os conhecimentos essenciais que todos os alunos da Educação Básica, de todas as redes de ensino (sejam elas particulares ou públicas) devem adquirir ao longo de sua escolaridade, e é um documento de caráter obrigatório

      No caso do ensino em língua portuguesa, a BNCC foi elaborada a partir de outro documento mais antigo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) - diretrizes separadas por disciplinas, de caráter não obrigatório, mas norteador. A perspectiva da linguagem adotada nos PCNs de língua portuguesa é orientada para a vida social, e se baseia nos estudos de Vygotsky e Bakhtin.

A visão vem da Teoria Sociointeracionista de Vygotsky, enfatiza o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo: fruto de interação, com função social, sem a qual o homem não é social, nem histórico, nem cultural. O ensino da língua portuguesa segundo essa perspectiva interacionista propõe o aprendizado de língua materna através do estudo dos gêneros discursivos, conforme a Teoria do Enunciado Concreto de Bakhtin.

 Essa teoria que fala exatamente sobre a condição de interação da língua e dos gêneros do discurso como a prática da linguagem. Segundo ela, a linguagem se dá através de enunciados orais ou escritos e só é compreendida se houver apreensão dos seus elementos constitutivos, sendo, portanto, um processo de interação.  Esses em enunciados estão divididos em gêneros discursivos, textos (orais ou escritos) com elementos próprios que caracterizam cada gênero.

Assim, a linguagem seria ensinada como uma totalidade, pois, além dos gêneros discursivos (orais / escritos) representarem o produto da interação verbal (oral / escrita), é através dos gêneros que as práticas de linguagem se encarnam nas atividades dos aprendizes. O ensino moderno da língua materna, portanto, exige uma concepção de linguagem como produto sócio-histórico-cultural e a visão do indivíduo como um ser único, que necessita de noções de leitura, escrita, produção de textos, gramática de ser reconhecido em sua variedade linguística e contexto social.

Assim é possível alcançar o verdadeiro objetivo do ensino de português: expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-las com eficácia em instâncias públicas, ou seja, interagir e (portanto) fazer uso da sua função social como cidadão. O professor que ensina língua portuguesa como língua materna é fundamental nesse processo, e deve estar devidamente preparado, tanto no que diz respeito à formação linguística quanto à formação pedagógica. É necessário ter a consciência de que letrar um indivíduo é mais que alfabetizá-lo e que aprender uma língua não significa saber classificar os verbos ou compreender os elementos estruturantes das palavras estudadas isoladamente.

O letramento abrange muito mais que o conhecimento específico do conteúdo desenvolvido, implica dizer que ele é capaz de utilizar o que aprendeu para fins interativos. Letrar é, portanto, proporcionar ao indivíduo essa capacidade de interação. Para tal, é necessário que o texto seja visto como unidade mínima de estudo. Assim, a unidade mínima de aprendizado já é, em si, uma totalidade que serve para que o indivíduo cumpra a função interativa da língua.

Vale também lembrar que o conjunto de todos os gêneros (orais e escritos) possíveis representa toda a forma de interação verbal (oral e escrita) possível. Logo, ao aprender gêneros do discurso, o aluno está aprendendo as formas de interação necessárias para sua formação como cidadão social, cultural e histórico, de maneira que esse cidadão possa circular entre os diferentes meios sociais com desenvoltura.

Os PCNs ainda dividem os gêneros discursivos em quatro possíveis grupos de estudo, sendo três relacionados ao uso (leitura, escrita e oralidade) e um relacionado à reflexão do uso da língua (prática de análise linguística/semiótica), e configuram o estudo da língua pelo enfoque dos gêneros discursivos em um avanço, se comparado à visão estruturalista amplamente adotada na escola até bem recentemente, em que se definia um programa de curso em termos de categorias da gramática normativa a serem trabalhadas de modo descontextualizado.

A BNCC foi construída a partir da especificação dos PCNs, delimitando em cada série quais os gêneros devem ser apreendidos pelos alunos, e é exatamente por ser um avanço no ensino, proporcionando uma educação mais igualitária é que é determinada pelo MEC na educação escolar.


por Paula Ramos Ghiraldelli

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