domingo, 10 de fevereiro de 2019

Relatório de prática com o gênero crônica


                
        Os sonhos se transformam em realidade quando acreditamos e lutamos por eles

Não foi a primeira vez que me vi diante do desafio de trabalhar com as Olimpíadas de Língua Portuguesa, especificamente com o gênero crônica, pois já havia desenvolvido o trabalho com os gêneros propostos pelas Olimpíadas na edição anterior e coincidentemente com a mesma turma. Quando a coordenadora pedagógica divulgou o cronograma das Olimpíadas e me apresentou o material a ser trabalhado com os alunos, dei uma rápida olhada no material e pensei: mais um desafio a ser transposto, mas espera um pouco! O que não é um desafio no exercício da docência?
Contagiar e envolver os alunos nesse processo não deveria ser uma tarefa árdua, pensei: são adolescentes curiosos, criativos, mentes dinâmicas, a tarefa agora era como introduzir o conteúdo de forma criativa, necessitava de uma grande familiaridade entre o autor e a língua.
Com esse foco, apanhei tudo o que tinha sobre o gênero, peguei o computador, pois sentia a necessidade de me reciclar,  buscar novos conceitos incorporados há anos em minha prática, pois bem, passei dias e horas  a fio lendo e analisando, primeiramente o material das Olimpíadas e posteriormente outros materiais, também me deliciei com algumas crônicas que me oportunizaram delinear uma linha tênue entre realidade e ficção: ‘’Se é um gênero que usa lentes de aumento nos fatos do cotidiano’’, ora o que mais temos no nosso dia a dia são fatos inspiradores, pois constantemente os alunos chegam para me contar fatos do seu dia a dia, mas como  inspirá-los a ir além do observável, transpor os limites do real para chegar ao ideal da linguagem da crônica, ‘’torná-los cronistas’’.
Era chegado o dia de trabalhar com o material na turma do 9º Ano. Parti primeiramente do conhecimento prévio dos alunos, para após, construir o novo, iniciei lendo uma crônica cujo título era: ‘’Criança trocada por casa é apresentada no PR’’, no decorrer da leitura percebia alguns olhares inquietantes, mas prosseguia, ao termino da leitura interrogue-os se haviam gostado, uma aluna com ar inquietante questionou que o texto analisado tinha as características de uma notícia, contudo apresentava humor, uma linguagem corriqueira o que gerou dúvida e muitas discussões em sala de aula. Diante dos questionamentos instiguei-os: “vocês se lembram do que estudamos a respeito da Crônica? Conseguia perceber no olhar dos alunos que buscavam pela resposta. Depois de longos segundos de silêncio, as ideias chegam, à principio um pouco tímidas, logo em seguida, um vendaval. Naquele momento me sentia realizada, pois à medida que identificavam as características da crônica diferenciava-a da notícia.
Depois desse momento, conversei com eles sobre A olimpíada de Língua Portuguesa; alguns perguntaram: é obrigado participar? Disse que não, mas perderiam uma ótima oportunidade de demonstrar o talento que acreditava que cada um tinha, com isso consegui a adesão da maioria dos alunos, logo alguns recordaram já ter participado no 7º ano, mas com o gênero Memórias Literárias, convidei-os a participar novamente, só que agora com o gênero Crônica. ‘’E aí prontos para o desafio, quando mal sabiam eles que o desafio  era bem mais meu do que deles’’. Convite aceito.
No dia seguinte bem mais entusiasmada e confiante, além dos textos recomendados, preparei cópia de outras crônicas e levei para a sala de aula, pedi para que fizessem grupos e distribui o material de modo que cada aluno ficasse com umas das crônicas: A última crônica (Fernando Sabino), Cobrança (Moacir Scliar), Peladas (Armando Nogueira), O homem Nu (Fernando Sabino) Dois amigos e um chato (Stanislaw P. Preta), Cem cruzeiros a mais (Fernando  Sabino), pois a intenção inicialmente era analisar a estrutura do texto: a coesão entre os parágrafos e sua extensão.
 Já com relação ao enredo, analisamos os fatos e como eram arquitetados. Onde estava o humor, o inusitado, a leveza, a reflexão? Realidade ou ficção? Embora a leitura tenha sido muito enriquecedora e prazerosa, a dúvida sobre o que é uma crônica permanecia e já concordávamos com Humberto Werneck, em entrevista à Revista Na Ponta do Lápis nº 20: ‘’é mais fácil definir a crônica pelo que ela não é’’.
Finalizado esse trabalho era a hora de oportunizar o entrosamento com o tema ‘’O lugar onde vivo’’, distribui a cada um uma noticia e imagem de lugares considerados importantes para a história da Cidade de Porto Nacional - TO, como: A Igreja Catedral,O Colégio Sagrado Coração de Jesus,Colégio Estadual Drº Pedro Ludovico Teixeira, Praia de Porto Real e Interporto Futebol Clube. Pedi que antes de ’’ suarem a camisa’’ que analisassem atentamente cada imagem e pensassem sobre o texto que produziriam e todos os elementos estudados.
Passeando pela sala conseguia perceber a empolgação, inquietação, nervosismo que tomava conta dos alunos, observava que tinham muito a dizer, mas a linguagem (vocabulário) ainda era deficitária mais pareciam relatos, entretanto alguns alunos já conseguiam de forma bem rudimentar questionar a linguagem apesar de não saber como usá-la ainda, aos poucos as produções foram sendo finalizadas e entregues. Analisei cada texto produzido e constatei o que já havia observado em sala ainda não eram crônicas, em muitos textos até foi possível identificar alguns dos elementos de uma narrativa como o conflito e o clímax, mas ainda tínhamos um longo caminho a percorrer. Devolvi com alguns comentários, pois aguardavam ansiosos pelas minhas impressões. Pedi para que guardassem as crônicas, pois não íamos trabalhar a reescrita ainda.
Planejei aulas de leitura, levei-os a biblioteca para terem acesso a Coleção Para Gostar de Ler, da Editora Ática e também o livro ‘’As cem melhores crônicas brasileiras’’, seleção de Joaquim Ferreira dos Santos. Antes de iniciarmos nossa oficina, Questionei-me em como trabalhar com eles a reescrita de forma coletiva, então escolhi um dos textos sem identificar seu autor passei para o computador para usá-lo no projetor multimídia, e sugeri que fizéssemos juntos a reescrita do texto, deixei que eles lessem o texto e em seguida li também e aos poucos fomos tecendo o texto e dando forma de crônica .
Era chegada à hora de reescreverem a última versão de seus textos, pedi que eles retomassem seus textos, apesar de todo o trabalho nem todos se sentiam preparados. Como ter alma de cronista? Como transformar algo aparentemente simples em especial? Tais perguntas floriam suas ‘’cabecinhas’’, mas não tinha mais como recuar, pois já tinham evoluído muito e precisavam por em pratica os conhecimentos adquiridos, porém já concordavam que a escrita exige pratica e que só se aprende a escrever escrevendo.
Textos finalizados e enviados à Comissão Julgadora Escolar e a certeza de dever cumprido. Cada etapa em que o texto de nossa escola era selecionado, crescia a ansiedade e emoção, pois lembrávamos de todo o caminho percorrido até aqui. Mas com a certeza de que: ’’Tudo pode ser, se quiser será os sonhos sempre vem pra quem sonhar, Tudo pode ser, só basta acreditar e buscá-los’’.

Professora: Vera Lúcia Moreira Gonçalves
Colégio Estadual Dr Pedro Ludovico Teixeira    -    Porto Nacional- TO, 2014

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